Minha Tristeza - Pode Falar, Amiga!

Minha Tristeza

Publicado em 22 de jun. de 2020

 
As pessoas não escrevem livros suficientes sobre a tristeza.
Ela é feia, solitária e por falta de uma palavra melhor triste.
A tristeza normalmente aparece como elemento de uma bela história de superação, apenas uma parte de um conto de esperança e felicidade. Mas a tristeza é a protagonista de muitas histórias. É começo, meio e fim.
Acho que errei ao tentar falar sobre a depressão sem dar a devida atenção a ela, a joguei como coadjuvante numa história fabricada de esperança e superação. Essa não é a minha história.
Errei ao tentar pular do ponto inicial para a feliz conclusão, sem percorrer o longo e dolorido caminho entre os dois pontos, recortei e ignorei o meio da história.
A minha frustração foi crescendo ao ponto que eu ignorava esse "meio", um buraco literal foi se formando e eu não fazia ideia do abismo que estava caindo.

Obviamente o objetivo de um tratamento pra depressão é melhorar e chegar num ponto de estabilidade onde se torna um detalhe da sua vida, e não a consome por inteiro como antes. Mas minha obsessão por chegar na sedutora linha de chegada com seus elogios, esplendor e glória, foi apenas mais um obstáculo a superar numa luta que já estava bastante difícil.
Me dei conta disso ao perceber que nenhum progresso era bom o suficiente pra mim, até que ouvi a seguinte frase em um filme "o problema de uma perfeccionista é que nada está bom o suficiente pra ela" e essa frase ficou ecoando na minha cabeça por horas. Eu já tinha a plena consciência de ser perfeccionista e de que isso era um problema para a minha vida no geral, mas nunca tinha percebido o quanto isso afeta o modo como encaro o meu tratamento.
Mesmo caminhando bem, avançando no tratamento e melhorando em alguns pontos eu não estava satisfeita, no exato momento que escrevo isso não estou satisfeita.

Estou triste.
Tendo um episódio depressivo que já dura alguns dias e a tristeza tem sido minha fiel companheira.
Ela me faz ficar presa na cama por horas, faz com que eu me sinta sozinha, rouba minhas esperanças e complica meus relacionamentos.
Se a tristeza fosse um cachorro ela seria daqueles pitbulls que são treinados para serem agressivos e atacar pessoas. E por mais que a gente queira trocar esse pitbull por um labrador, ele é nosso.
O que nos resta é aceitar que ele está aqui, e que se a gente for gentil o suficiente com ele, educar mostrando outro jeito de ser e ama-lo, ele pode se tornar um pitbull diferente, um pitbull tranquilo.
Assim é a tristeza, assim é a depressão. Elas não vão a lugar nenhum.

Queria muito terminar esse texto dizendo que eu descobri a chave pra adestrar esse pitbull, dar esperanças e até um prazo pra que o dia sonhado chegue.
Mas não seria honesto com você, e principalmente desonesto comigo mesma.
O que temos pra hoje é aceitar essa realidade e viver o processo do meio, com todas as suas dificuldades. Aceitar e entender que a tristeza é parte disso.
O lance agora é navegar por essa tristeza com um pouco mais de tranquilidade, sabendo que isso é uma parte, mas não é tudo. Que a depressão é real, está aqui, é parte da minha vida e que agora preciso me esforçar pra focar em pequenos passos no dia a dia pra lidar melhor com isso.

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